Como aprender inglês mais rápido que eu?

Tem um TL;DR (too long, didn’t read – longo demais, não li) ao final do texto. Mas eu acredito que se você está aqui é porque você quer ler algo pouco maior que um tweet.

Se você veio até esse site e chegou até esse texto, certamente já se perguntou como acelerar o seu aprendizado da língua inglesa. Algumas sensações comuns que você pode ter com relação ao próprio aprendizado são: não sou bom o bastante, inglês não é pra mim, meu aprendizado é muito lento – entre tantos outros. Mas antes de eu ir para as dicas propriamente ditas, que “autoridade” eu tenho para falar sobre isso?

Meu nome é Vinícius, sou brasileiro e eu tenho 32 anos. Hoje sou professor de inglês. Minha história com inglês começa lá na minha infância, mas pode ser dividida em diferentes estágios de interesse e – consequentemente – de aprendizado. Estudei meu ensino fundamental e médio em uma escola que tinha aulas de inglês desde as séries iniciais. Só que, lá nos longínquos anos 90, inglês não era algo que chamasse minha atenção. Os poucos jogos que eu jogava no computador eram em português ou em um inglês absurdamente instrumental – eu não precisava saber mais que start, stop ou left/right. Em todos esses anos eu não devo ter aprendido mais que o verbo to be, cores, animais e alguns poucos objetos. Isso ocorreu até que um primo me mostrasse o jogo Diablo I (isso deve ter sido por volta de 2000) e não havia a opção de jogar em português. Mais do que isso, o uso de inglês do jogo era mais que somente operacional. Eu precisava saber mais do que meia dúzia de verbos. Apesar da vontade de jogar eu não tive a vontade de efetivamente aprender o idioma. Eu jogava com um dicionário ao lado, traduzindo palavra por palavra (incluindo, por exemplo, traduzir um phrasal verb como duas ou três palavras distintas) ou simplesmente ia tentando executar as missões do jogo por tentativa e erro.

Na minha adolescência resolvi fazer um curso técnico em Microinformática no SENAI. Era o início dos anos 2000 e eu adorava (e ainda adoro) computadores e tecnologias em geral. Junte isso com a sensação vigente na época de que “computador é o next big thing”. Dentre as matérias existia o “inglês técnico”, que basicamente era um apanhado de verbos e vocábulos técnicos e um pouco de presente simples. Essa disciplina era dada para que conseguíssemos ler manuais de instrução e executar algumas configurações mais específicas.

E aqui, mais uma vez, apesar de o inglês estar orbitando minha vida eu não estava interessado em aprender. Note que eu sempre avançava o estritamente necessário para “ser aprovado” ou “conseguir executar uma tarefa” mas não me interessava pelo idioma. Formei no ensino técnico, trabalhei por um tempo na área, me desiludi e fui prestar vestibular em outra área. Como idioma estrangeiro da minha prova eu escolhi o inglês.

Passei no vestibular para engenharia geológica e comecei os estudos em setembro de 2007. Durante a minha graduação, a maior parte dos bons materiais didáticos estava disponível em inglês. E, novamente, lá vou eu para mais um curso de inglês. E, novamente, sem interesse em aprender mais do que o estritamente necessário, o que agora envolve um pouco de passados (para descrição dos fenômenos geológicos da Terra), simple present e passive voice. O vocabulário aumentou enormemente, mas meu inglês ainda era bastante instrumental.

Aqui eu acho importante frisar a constante do meu aprendizado de inglês da infância até então: eu só aprendia o que eu achava necessário para extrair informações de textos técnicos, não mais que isso. Sempre era limitado por não ver real necessidade em aprender inglês. Me graduei e seguia sem me importar muito em de fato me comunicar em inglês.

2013 veio e veio junto a temporada de grandes eventos esportivos no Brasil. Em junho deste ano tivemos a Copa das Confederações e um ano depois teríamos a Copa do Mundo em solo nacional. E eu considero a Copa das Confederações o momento de queda da minha grande ficha. Making a long story short: recebemos, em nossa casa, a visita de um amigo americano. Minha irmã era quem fazia a comunicação acontecer. Eu ainda não me importava (tanto) em ter que conversar com mediação de um terceiro. Até que, um dia, minha irmã tinha que trabalhar e eu me peguei durante um dia inteiro com interações e conversas tão profundas quanto would you like some water?”. Eu consigo me lembrar do momento em que eu me peguei pensando “tem mais de 15 anos que eu de alguma forma estudo inglês e não consigo me comunicar minimamente”. A competição acabou, nosso amigo voltou pros EUA e somente depois disso eu realmente quis aprender inglês. Foram 16 anos de contato mas sem me interessar.

O que foi fundamental para o meu aprendizado foi querer aprender. Nesse ano eu voltei a fazer aulas de inglês (agora querendo fazê-las) e aproveitei a chegada da Netflix no Brasil para fazer uma imersão no idioma. Eu fazia aulas uma vez por semana e assistia algo perto de uma hora de conteúdo em inglês por dia. Na época eu assistia Breaking Bad e algumas sitcoms que tinham no catálogo da Netflix, pegava qualquer livro em inglês que tinha disponível em bibliotecas e aproveitava o acesso à internet com smartphone (que estavam engatinhando no Brasil) para sempre ler ou ouvir algo em inglês. Em cerca de um ano o meu inglês saiu de um nível virtualmente inexistente para o B2. Sim, eu tinha todo um background teórico de alguns anos de contato com a gramática. Nada muito além disso.

Quando esse amigo voltou, em 2014 para a Copa do Mundo, eu já falava. Havia comunicação. Em 2014, por causa do tempo no trânsito (e na maior parte das vezes dirigindo) eu comecei a assistir menos e ouvir mais. Foi quando comecei a ouvir bastante podcast. Hoje, como professor, eu considero a ideia de ouvir podcast fundamental. Ter contato apenas auditivo com o idioma é importantíssimo no desenvolvimento do listening. Apesar de ter melhorado enormemente, meu inglês ainda tinha certas limitações que precisavam ser aprimoradas.

Especialmente no que diz ao speaking. No meu caso, meu speaking deslanchou quando fui fazer o meu intercâmbio. Mas o intercâmbio não é algo que seja obrigatório para desenvolver essa habilidade. O importante é utilizá-la. Então: fale. Sempre que tiver a oportunidade, fale. Aproveite que a internet trouxe o mundo para a palma das nossas mãos e fale. Procure um pen pal, jogue online com chat por voz, faça aulas ou reuniões em inglês (e fale nessas oportunidades). As possibilidades de contato são infinitas

Cork City Center next to the city council. Photo by Vinícius Marçall.

Eu morei na cidade de Cork, Irlanda, entre 2016 e 2017. Em Cork eu tive a oportunidade de ter contato com um inglês que eu não estava acostumado. O sotaque era bastante diferente do que eu via em filmes e séries. Havia muitíssimas expressões derivadas do idioma irlandês e que eu jamais aprenderia em sala de aula. E era uma cidade muito cosmopolita (apesar de pequena para padrões brasileiros), me dando a oportunidade de ter contato com gente do mundo todo e perceber diferentes culturas e sotaques sendo refletidos dentro do inglês. Todos falávamos inglês – mas não o mesmo inglês.

TL;DR e conclusões – conforme vocês puderam perceber, ao longo de todo o texto, o que me fez aprender inglês foi o querer aprender. Enquanto você não quiser o processo será muito dificultado. Se saber inglês for a diferença entre uma promoção no seu emprego isso pode não ser o suficiente. Se os seus pais te matricularam num curso de inglês porque querem que você esteja preparado para um mundo globalizado, isso talvez não seja suficiente. Eu costumo perceber que os alunos iniciam as aulas em três grandes grupos: os que precisam do inglês (geralmente por motivos empregatícios ou acadêmicos), os que os pais colocaram na aula e os que querem aprender. Entenda o que pode te motivar em aprender um novo idioma. Todos os motivos são válidos, de fazer a viagem dos seus sonhos à conseguir ler aquele autor que você adora no original, de ir estudar em outro país a expandir o seu ciclo de amizades. Aproveite as facilidades que o mundo conectado trouxe. Você tem na sua frente um equipamento poderosíssimo que possibilita acessar informações de todo o mundo em pouquíssimos cliques. Coloque mais inglês na sua vida: veja os filmes no idioma original, ouça mais músicas em inglês, busque notícias e literatura na língua inglesa, converse em inglês. Com a internet é bastante possível ter uma imersão no idioma sem necessariamente sair do país. O fundamental é que você efetivamente queira aprender um novo idioma.

Vinícius Marçall
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